O ser humano é, por excelência, multifacetado, no sentido de sua complexidade tanto fisiológica quanto psicossocial. Nossa preocupação em atender as peculiaridades do ser humano, sob a orientação psicopedagógica, nos remete aos campos das neurociências que englobam vários estudos na área neurológica e, em especial, estuda o cérebro humano como o principal órgão humano organizado anatômica e funcionalmente, especialmente pela superioridade do sistema nervoso.
O estudo do comportamento humano envolve as mais diferentes disciplinas, de modo que podemos caracterizá-lo como um estudo multidisciplinar, mas também como inter e transdisciplinar. Inter e transdisciplinar porque os conhecimentos e práticas de um determinado campo de atuação estabelecem interações com outros e, por meio deles, transitam situações contextuais cognitivas e vivenciais, filtrando os processos vitais e de recuperação. Cada corpo neural recebe e emana influências diversas do seu habitat, ou campo ecológico contextual, a todo instante, permeando sua existência na inserção dos impulsos neurais para compor comportamentos.
O DSM-IV ( Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) em sua revisão para DSM-V já procura incluir, em suas avaliações, equipe de neurologistas e psiquiatras, além de outros profissionais de diferentes áreas de atuação, não somente da área da saúde, há percepções na questão contextual, vivencial e valorativa na construção dos transtornos mentais e psicossomáticos.
Já não é mais possível ignorar que existem pesos ambientais nas alterações da saúde e nos transtornos de aprendizagens e reaprendizagens de diferentes pacientes em nossas salas de recuperação neurobiológica, neuromotora e neuropsíquica. Consultando o CID-10 (Sistema Oficial de Decodificação e outros instrumentos clínicos de pesquisa nas áreas médicas) podemos conferir que códigos e termos das neurociências estão bem inseridos em suas classificações e, ambas se coadunam com as orientações e definições do DSM-IV. Deste modo, a garantia de melhores possibilidades interventivas está, em grande parte, contidas nas neurociências.
As concepções reducionistas de transtornos físicos e transtornos mentais dão lugar a uma outra concepção integralizada de transtorno ou doença, visto que não há realmente a antiga dicotomia percebida entre corpo e mente. A própria neurociências nos revela a existência do mental nos transtornos físicos e vice-versa. Desse modo, qualquer linha reeducativa e psicopedagógica terá que incluir as abordagens neurobiológicas multi, inter e transdisciplinar em seus trabalhos.
Geralmente as condições médicas, aqui se incluem as condições fisioterapêuticas e psiquiátricas, se submetem a definições dentro de certas patologias estruturais, quadros sintomáticos, desvio da norma fisiológica, etiologias; assim como incapacitação, deficiência e descontrole mas, ao trazermos essas definições para o campo da psicopedagogia ou da neuropsicopedagogia, diferentes situações exigirão diferentes definições, estas estarão nos limites entre o normal e patológico, nem sempre tão fechados ou estipulados como inalteráveis para o próximo diagnóstico.
Todas as classificações, categorias e critérios que geralmente estão contidos nos DSM, assim como no CID-10, são empregados para diferentes fins, desde a judicial criminal até os reivindicadores de benefícios quanto à saúde e recuperação de muitos que foram afetados por transtornos, doenças ou distúrbios, dentro de determinada situação que suponha indenizações ou tratamentos específicos, livres de gastos pelo sujeito afetado.
Sabemos que, por mais que a ciência seja exata, novos saberes, frutos de pesquisas, descobertas, experimentações práticas e hipóteses a testar, conduzem a revisões de classificação, diagnósticos e intervenções. O fechamento é inaceitável, sob pena de uma rigidez ou radicalidade, impedindo a evolução dos conhecimentos e intervenções eficazes.
Exemplo disso é a inserção das etnias e culturas na avaliação de determinadas doenças ou transtornos, tanto na área médica clínica quanto na psicopedagogia clínica. Nesse sentido o DSM-IV deixa bem evidente que: “Um clínico, que desconheça o marco de referência cultural de um indivíduo, pode equivocar-se ao considerar como psicopatologia as variações normais do comportamento, crenças ou experiências peculiares da cultura do individuo”.( AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002, p 30)
Ao trabalharmos na área da educação, reeducação, reabilitação e neuropsicopedagogia clínica, estas concepções deverão se fazer presente frente a qualquer situação alterada da saúde físico mental, pois não podemos desconhecer a individualidade e a socialização do individuo ao nos basearmos na listagem sistemática de códigos e categorias oficiais das ciências da saúde. Critérios, às vezes, não somente dentro da medicina, também poderão apoiar diagnósticos e intervenções em vários casos de recuperação dos pacientes.
Essa abertura para as investigações nos encanta e convida a continuidade de estudos pois, dentre as várias linhas da neurociências destaca-se a comportamental e, com ela, os estudos da psicobiologia ou psicofisiologia assim como a cognitiva; quando relaciona a cognição, a autoconsciência, a linguagem e o pensamento. Tudo particularmente presente nas intervenções reeducativas ou de reabilitação de cognições e movimentos com apoios psicomotrizes e neurais da psicopedagogia clinica.
Essa área, relativamente nova na psicopedagogia, tem exigido que estejamos atentos e sempre atualizados frente às funções neurais e biofuncionais, tanto quanto em relação às várias ciências sociais; desde a infância até a velhice, motivo pelo qual a psicopedagogia tem estado atenta e parceira da andragogia.
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